Junto de dona Zoca
Zefa na esquina parou
E da conversa das duas
Pra Maria nada escapou
Assim a Zoca dizia
Como quem sempre sonhou
_Zefa até que enfim
Nem sei como mas é fato
Vou tê-lo logo em meu quarto
Olhando e sorrindo pra mim
Maria que trabalhava
Na moradia de Zoca
Encontrou quando entrava
Sua filha Filoca
Em segredo lhe contava
A fofoca que ouvia
-Ah meu Deus, ah quem diria
Filoca sua mãe tem outro
Contou agora pouco
Pra Zefa na padaria
O pai que vinha chegando
Escutou o fim da história
Cego não ouviu mais nada
E mandou a Zoca embora
Ela desesperada
No peito deu tiro certeiro
Entre choro e barulho
Eis que chega o carteiro
Dando na mão da empregada
Um cartão e um embrulho
No cartão vinha explicado
Em tudo pondo sentido
-Zoca aquí é o mano Renato
Atendendo seu pedido
Lhe envio agora o retrato
Do papai que tanto pedia
Pode tê-lo pendurado
No quarto como queria
E no velório se via
Chorando desesperados
Filoca o pai e Maria
Pensando inconformados
O quanto estavam enganados
E quanto a fofoca podia
E enquanto minha boca cala
Medito na grande lição
A minha boca só fala
Do que está cheio o coração”
Cornélio Pires
Guarujá, 26/11/90