Minha
mãezinha, alguém me disse,
Que
tu te foste, triste sem mim;
Já
não me embala tua meiguice,
E
não podias partir assim.
Eu
acredito que tenhas ido
Pedir
a Deus, que possui a luz,
Que
de mim faça, do teu querido,
Um
dos seus anjos, outro Jesus.
Mas
tanto tempo faz que partiste,
Que
me fugiste sem me levar,
Que
sofro e choro, saudoso e triste,
Sem
esperanças de te encontrar.
Há
quantos dias que te procuro,
Que
te procuro chamando em vão!...
Tudo
é silêncio tristonho e escuro,
Tudo
é saudade no coração.
Outros
meninos alegres vejo,
Numa
alegria terna e louçã,
Que
exclamam rindo dentro dum beijo:
“Como
eu te adoro, minha mamã!”
Sinto
um anseio sublime e santo,
De
nos meus braços, mãe, te beijar;
E
abraço o espaço, beijo o meu pranto,
Somente
a mágoa vem-me afagar.
Inquiro
o vento: – “Quando verei
Minha
mãezinha boa e querida?”
E o
vento triste diz-me: – “Não sei! ...
Só
noutra vida, só noutra vida!...”
Pergunto
à fonte, pergunto à ave,
Quando
regressas dos Céus supremos,
E me
respondem em voz suave:
“Nós não sabemos! nós não sabemos!...”
Pergunto
à flor que engalana a aurora,
Quando
é que voltas desse país,
E
ela retruca, consoladora:
“Depois
da morte serás feliz.”
E
digo ao sino na tarde calma:
“Onde
está ela, meu doce bem?”
Ele
responde, grave, à minhalma:
“Além
na luz! Na luz do Além!...”
O
mar e a noite me crucificam,
Multiplicando
meus pobres ais,
Cheios
de angústias, ambos replicam:
“Tua
mãezinha não volta mais.”
Somente
a nuvem, quando eu imploro,
Diz-me
que vens e diz que te vê;
E me
conforta, do céu, se eu choro:
“Eu
vou chamá-la para você.”
Sempre
te espero, mas, ai! não voltas,
Nem
para dar-me consolação;
Ó
mãe querida, que mágoas soltas
Andam
cortando meu coração.
Tanta
saudade, e, no entretanto,
Vejo-te
linda nos sonhos meus;
Ajoelhada,
banhada em pranto,
E de
mãos postas aos pés de Deus.
Sempre
a meus olhos, estás bonita
Qual
uma rosa, como um jasmim!
Porém
conheço que estás aflita,
Com
o pensamento junto de mim.
Então,
entrego-me ao meu desejo,
Tremo
de anseio, calo, sorrio,
Sentindo
o anélito do teu beijo...
Mas
abro os olhos no ar vazio!
Vai-se-me
o sonho... Quanta amargura,
Que
sinto esparsa pelo caminho!
Que
mágoa eterna! que desventura,
Para
quem segue triste e sozinho.
Volta
depressa! guardo-te flores,
Porque
só vivo pensando em ti:
Celebraremos
nossos amores,
Junto
da fonte que canta e ri.
Já
não suporto tantos cansaços!...
Se
não voltares, pede a Jesus
Que
te conceda pôr-me em teus braços,
Foge
comigo para outra luz!...
===
Livro:
Parnaso de Além-Túmulo
Médium:
Francisco Cândido Xavier
Autor
Espiritual: Espíritos Diversos
Ano:
1932