1
Eu
fui pedir à Natureza, um dia,
Que
me desse um consolo a tantas dores;
Desalentado
e triste, pressenti-a
Cansada
e triste como os sofredores.
Encaminhei-me
à porta da Agonia,
Corroído
por chagas interiores,
Buscando
a morte que me aparecia
Como
o termo anelado aos dissabores,
Desvendando
esse trágico segredo
Que
a alma decifra, pávida de medo,
Com
ansiedade e temores dos galés...
Mas
ah! que atroz remorso me persegue!
Choro,
soluço, clamo e ele me segue
Nesse
abismo que se abre ante os meus pés.
2
Ninguém
ouve na Terra esse lamento
Da minha
dor imensa, incompreendida,
Nas
pavorosas trevas desta vida
Em
que eu julgava achar o Esquecimento.
Tenebrosa,
essa noite indefinida,
Cheia
de tempestade e sofrimento,
No
país do Pavor e do Tormento
Onde
chora a minhalma enceguecida.
Onde
o não-ser, a paz calma e serena,
Que
me traria o bálsamo a esta pena
Interminável,
rude, dolorosa?
Ninguém!
Uma só voz não me responde!
Sinto
somente a treva que me esconde
Na
vastidão da noite tormentosa...
3
Sirva-vos
de escarmento a dor que trago
Na
minhalma infeliz e sofredora,
Este
padecimento com que pago
O
desvio da estrada salvadora.
Aqui
somente ampara-me esse vago
Pressentimento
de uma nova aurora,
Quando
terei os bens, o brando afago
Da
Luz, que está na dor depuradora.
Agora,
sim! depois de tantos anos
De
tormentos, em meio aos desenganos,
Espero
o sol de novas alvoradas
De
existências de pranto e de miséria,
Para
beber no cálix da matéria
As
essências das dores renegadas!
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Livro:
Parnaso de Além-Túmulo
Médium:
Francisco Cândido Xavier
Autor
Espiritual: Espíritos Diversos
Ano:
1932