No
sacrário das lembranças,
Revejo-te,
trigueirinha,
De
negras e longas tranças,
Moreninha.
Teus
lindos pés descalçados,
Pisando
de manhãzinha
A
verde relva dos prados,
Moreninha.
Os
primorosos cabelos
Enfeitados,
à tardinha,
De
miosótis singelos,
Moreninha.
De
olhar sedutor e insonte,
Quando
o teu passo ia e vinha
Em
busca da água da fonte,
Moreninha.
Teu
vulto de camponesa
Era
o porte de rainha,
Rainha
da Natureza,
Moreninha.
Inda
ouço os sons primeiros
Da
tua voz na modinha
Modulada
nos terreiros,
Moreninha.
Lavando
a roupa às braçadas,
Nos
fios d’água fresquinha,
Sob
as mangueiras copadas,
Moreninha.
Os
teus risos adorados,
Desferidos
à noitinha,
Nos
bandos de namorados,
Moreninha.
A
tua oração ditosa,
Nas
missas da capelinha,
Tão
faceira! tão formosa!
Moreninha.
A
placidez do teu rosto
Com
teus modos de avezinha,
Fitando
a luz do sol-posto,
Moreninha.
O
teu samburá de flores
Que
levavas à igrejinha,
Enchendo
a nave de odores,
Moreninha.
O
vestidinho de chita,
De
rosas estampadinha,
Fazendo-te
mais bonita,
Moreninha.
O
nosso idílio encantado,
Quando
te achavas sozinha,
Sob
o luar prateado,
Moreninha.
Que
terna recordação
De
minh’alma se avizinha!
De
saudade, de paixão,
Moreninha.
Ai!
Ai! meu Deus, quem me dera
Rever-te,
doce rainha,
Rainha
da Primavera,
Moreninha.
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Livro:
Parnaso de Além-Túmulo
Médium:
Francisco Cândido Xavier
Autor
Espiritual: Espíritos Diversos